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O mercado financeiro brasileiro oferece diversas opções interessantes de investimento em renda fixa. Além dos populares CDB, Tesouro Direto e poupança, duas alternativas que têm ganhado mais espaço são o CRI e o CRA.
Mas no que esses dois investimentos se diferenciam? Quais as vantagens e desvantagens de cada um? É seguro investir em CRI e CRA?
Neste artigo, vamos explorar em detalhes tudo que você precisa saber sobre Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
O que é CRI?
CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) é um título de renda fixa lastreado em créditos imobiliários, ou seja, ele representa uma fração de uma dívida imobiliária que é negociada no mercado financeiro.
Os CRIs são garantidos por créditos decorrentes de financiamentos habitacionais ou comerciais. Os recursos captados com a venda dos CRIs são destinados às construtoras e incorporadoras, que utilizam esses recursos para financiar novos empreendimentos imobiliários.
Principais características do CRI:
- Rentabilidade: pode ser pré-fixada, pós-fixada (indexada ao CDI, IPCA, etc) ou híbrida.
- Prazo médio: entre 24 e 36 meses.
- Risco de crédito: considerado baixo, desde que analisada a qualidade dos créditos.
- Tributação: isento de IR para pessoa física, independente do prazo
- Investimento mínimo: a partir de R$ 1 mil reais.
Exemplo de rentabilidade de CRI:
Considere um CRI com as seguintes características:
- Valor investido: R$ 10.000
- Prazo: 36 meses
- Rentabilidade: IPCA + 6% ao ano
- Tributação: Isento de IR
O IPCA acumulado no período foi de 10%. Portanto, o cálculo do rendimento seria:
- Rendimento pelo IPCA (10% sobre o valor inicial): R$ 1.000
- Rendimento fixo (6% sobre o valor inicial): R$ 600
- Rendimento total: R$ 1.600
- Imposto de renda: Isento para pessoa física
- Valor final a receber: R$ 11.600
Ou seja, considerando a rentabilidade e isenção de IR, o CRI rendeu 16% ao investidor neste cenário hipotético.
O que é CRA?
Já o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) é um título lastreado em recebíveis de empresas do agronegócio, como securitização de vendas futuras das safras agrícolas e créditos rurais.
O CRA permite que empresas do setor captem recursos no mercado financeiro por meio da venda desses certificados lastreados nas dívidas dos seus parceiros de cadeia, como produtores rurais, cerealistas e cooperativas.
Principais características do CRA:
- Rentabilidade: pré-fixada, pós-fixada (CDI, IPCA) ou híbrida.
- Prazo médio: entre 12 e 84 meses.
- Risco: também considerado baixo, desde que analisada a qualidade dos recebíveis.
- Tributação: isento de IR para pessoa física, independente do prazo
- Aplicação mínima: a partir de R$ 1 mil.
Exemplo de rentabilidade do CRA:
Vamos considerar um investimento em CRA com:
- Valor inicial: R$ 20.000
- Prazo: 60 meses
- Rentabilidade: IPCA + 5% ao ano
Imaginando que o IPCA acumulado no período foi de 15%. O cálculo seria:
1) Rendimento pelo IPCA (15% sobre o valor inicial): R$ 3.000
2) Rendimento fixo (5% ao ano sobre o valor inicial): R$ 5.000
3) Rendimento total: R$ 8.000
4) Imposto de renda: isento para pessoa física
5) Valor final a receber: R$ 28.000
Ou seja, o rendimento total do CRA neste cenário hipotético foi de 40% (15% pelo IPCA + 25% taxa fixa).
Comparação da rentabilidade estimada
Para você ter uma ideia de como CRI e CRA se comparam a outros investimentos, veja esta tabela com simulações de rentabilidade:
Investimento | Rentabilidade | Prazo | Tributação | Valor Final |
---|---|---|---|---|
CRI IPCA + 6% | 16% a.a. | 36 meses | Isento | R$ 11.600 |
CRA IPCA + 5% | 40% total | 60 meses | Isento | R$ 28.000 |
CDB 105% CDI | 12% a.a. | 12 meses | Regressiva | R$ 11.200 |
LCI IPCA + 6% | 13,6% a.a. | 36 meses | Regressiva | R$ 11.360 |
LCA IPCA + 6% | 13,6% a.a. | 24 meses | Isento | R$ 10.816 |
Tesouro IPCA+ 2026 | IPCA + 4,81% a.a. | 4 anos | Isento | R$ 12.500 |
Observe que os retornos estimados do CRI e CRA são competitivos na comparação com os demais investimentos. Claro que na prática a rentabilidade de cada aplicação dependerá do cenário econômico durante o período.
Análise de risco dos CRI e CRA
Um ponto importante sobre CRI e CRA diz respeito à análise de risco desses investimentos. Embora considerados de baixo risco, é essencial entender seus fatores de risco.
O grande trunfo dos CRIs e CRAs está na pulverização, ou seja, cada certificado representa uma pequena fração de milhares de créditos diferenciados. Isso dilui o risco.
Porém, o investidor deve avaliar a qualidade dos créditos que servem de lastro para cada emissão de CRI e CRA. Deve-se analisar a origem desses recebíveis e a capacidade de pagamento dos devedores.
Outro fator importante é a estrutura de garantias e overcollateralization (valor total dos recebíveis excede o valor total da emissão) de cada certificado.
Portanto, embora de baixo risco, a análise do lastro e garantias é fundamental antes de investir no CRI ou CRA.
Perfil do investidor ideal para CRI e CRA
Dado o seu perfil de risco mais moderado, os certificados CRI e CRA podem fazer sentido para diversos tipos de investidores. Veja algumas indicações:
- Investidores conservadores: pela relativa segurança e rentabilidade potencialmente superior à poupança, CRI e CRA são opções viáveis para perfis mais avessos ao risco.
- Investidores moderados: podem investir uma parcela do portfólio em CRIs e CRAs buscando retornos mais atrativos ao mesmo tempo que diversificam.
- Investidores arrojados: embora de renda fixa, CRI e CRA conferem alguma exposição aos setores imobiliário e do agronegócio, o que pode interessar aos perfis agressivos.
De forma geral, fazer uma alocação equilibrada entre CRI, CRA e outros investimentos tradicionais pode ser uma estratégia sábia para maximizar retornos ajustados ao seu nível de risco desejado.
Análise do cenário econômico para CRI e CRA
O cenário macroeconômico sempre deve ser considerado na hora de investir. Vejamos como alguns fatores podem influenciar esses dois investimentos:
- Alta dos juros: beneficia CRIs e CRAs pós-fixados, aumentando sua atratividade vs. pré-fixados.
- Queda dos juros: prejudica a rentabilidade dos pós-fixados, porém impulsiona setores imobiliário e agronegócio, melhorando qualitative dos lastros.
- Alta da inflação: impulsiona CRIs e CRAs com correção monetária. Porém, eleva riscos do cenário em geral.
- Aumento de inadimplência: piora a qualidade dos lastros, elevando riscos, especialmente em recessões. Análise prévia é fundamental.
- Retomada econômica: melhora perspectivas para setores imobiliário e agro, trazendo maior solidez aos lastros e baixando riscos.
Dessa forma, o investidor de CRI e CRA deve balancear entre oportunidades e riscos considerando o cenário corrente e suas projeções futuras de curto, médio e longo prazo.
Mitos e verdades sobre CRI e CRA
Por se tratar de investimentos menos conhecidos, algumas crenças erradas sobre CRIs e CRAs acabam se disseminando. Vamos esclarecer os principais mitos:
- São investimentos complexos: Na verdade, CRI e CRA são simples de entender, sendo apenas títulos lastreados em recebíveis com fluxos de pagamentos definidos.
- Melhores que CDB e LCI/LCA: CRI, CRA, CDB, LCI e LCA têm características distintas e não devem ser comparados diretamente. O ideal é analisar caso a caso.
- Não há risco: Possuem riscos de crédito, inadimplência, descasamento de taxas e desvalorização dos lastros, que devem ser avaliados.
- Melhor retorno que a poupança: Depende das condições de mercado. É preciso analisar a rentabilidade específica de cada título antes de investir.
- Prazo de resgate é longo: Existem opções com liquidez diária, ideal para reserva de emergência. Mas há CRIs/CRAs com carência, que devem ser evitados para fundos de curto prazo.
Vale a pena investir em CRI e CRA?
Podemos concluir que CRI e CRA são opções viáveis dentro de uma estratégia de diversificação da carteira de investimentos em renda fixa.
Permitem acessar nichos específicos como o mercado imobiliário e o agronegócio de forma simples, pulverizando riscos.
Contam com a vantagem tributária na comparação com outras alternativas de renda fixa, pois são 100% isentos de imposto de renda.
Porém, requerem análises prévias das condições econômicas, emissores, lastros e garantias para maximizar a segurança. Não são investimentos passivos.
Dada a sua combinação interessante entre riscos moderados e retornos potencialmente atraentes, os certificados CRI e CRA podem fazer sentido para diversos perfis de investidor.
O ideal é avaliar caso a caso e incluir esses ativos dentro de uma carteira diversificada, equilibrando riscos e retornos de acordo com seus objetivos financeiros.
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